A lua cheia emitia seu brilho.
No piso,
Estendia-se o reflexo negro
Quase a alcançar-lhe os pés,
Alí, na madrugada, às duas e dez.
As cortinas
Não podiam fecharem-se sozinhas
E faltava-lhe força para levantar-se,
Havia já certo tempo
Que desistira, inocente,
Dos poderes da mente.
O cenho sisudo
Parecia arrependido.
"Como aquilo havia acontecido?"
Aquela pergunta não a abandonava,
O medo ditava tudo o que pensava.
Num espelho manchado de sangue,
Aqueles olhos enfurecidos,
Adiante,
Pareciam totalmente estranhos.
Manchas também nos cabelos castanhos.
Durante anos amou o corpo estendido.
Seu coração, pertencia ao bandido
Que um dia roubara-lhe toda a paz.
O corte, fundo demais,
Quase partiu ao meio
O seu belo seio.
O pedaço
Do dedão esquerdo
Do seu belo pé,
Ainda preso,
Doia muito quando tocava o rodapé.
Aquelas tristes memórias
A açoitavam fortemente.
Os dias de tristezas e glórias...
Dois amantes febris, inocentes...
Só agora ela via
O terrível monstro
Que os assombrava.
A falta de alegria,
Destruidora de planos,
Ela mesma a provocara.
O pobre infeliz,
Agora imóvel,
No chão,
Como ela sempre quis,
Era óbvio,
Nunca mais diria "não".
Lembrava-se de como ele era imbecil.
Era calmo, atencioso, prestativo, infantil...
Apenas mais um corno em potencial.
Aquele sorriso impróprio e estúpido
Davam-lhe a imagem de um corrupto.
Pensava que não tinha um rival...
E novamente a dor insuportável
Fazia-lhe sentir-se inconfortável.
As estúpidas declarações de amor
Provocavam nela apenas pura aversão.
Ele era ótimo em lidar com a dor,
Mas não era mais que uma diversão.
Uma mosca sentou no osso exposto do seu dedão.
Tavez ela nunca tenha amado-o.
Sentia-se muito bem ao seu lado,
Mas, algo nele a incomodava.
A sua eterna felicidade
Era o que mais a irritava,
Isto sabia que era verdade.
Cada sorriso por ele emitido
Despertava nela um ódio desmedido.
Como ele era idiota.
Será que aprovou também,
Como comigo, com outro alguém,
O saboroso gosto da derrota?
E outras pequeninas Moscas
Sentavam nos ossos à mostra.
Pequenos pontinhos brilhantes
Tomavam todo o seu campo visual.
As poças sanguíneas coagulates
De ambos uniam-se pelo chão.
Ela estava muito mal.
Sentia dormência nos dedos da mão.
O instinto vivo de sobrevivência
Mostrou nele toda a sua essência
Nos seus últimos segundos de vida.
Depois de uma vida de pacifismo
Ele largou de mão todo o moralismo
E reagiu contra a sua investida.
Pena ser já tão tarde,
A lâmina já penetralha-lhe a carne.
Nos seus últimos segundos
Revidou, em talhes mais profundos.
Mas ela, muito esperta,
Sabia que, para ele, a morte era certa.
Escolheu cuidadosamente o local
Onde desferiria o seu golpe fatal.
Era para parecer acidental...
Rompeu-lhe apenas a artéria femural,
No meio do seu último beijo,
Queria-o morto, não com um aleijo.
O pior foi ele ter percebido.
Era para ela ter fugido
Enquanto parecia um acidente.
Mas ele foi-lhe um passo á frente.
Agarrou-a por um braço,
Num pequeno espaço de tempo,
Firme como um laço num touro,
Tomou-lhe a causa do ferimento
E tencionava arrancar-lhe o couro.
A mesa de mámore, até alí de pé,
Caiu-lhes sobre os pés
Decepando o dedão do pé da mulher.
Com a última investida
que o troxe algum efeito
Abriu nela aquela ferida
Que partiu-lhe o peito.
Ela apenas havia realizado
O mais antigo sonho do finado:
Deixar de existir.
Ele é que nunca teve a coragem
De realizar o seu desejo selvagem
De partir.
Ele era retardado, depressivo e,
Ainda sim, vivia a sorrir.
E as moscas já cobriam-lhes inteiros
Como trabalhadores matinais da Morte.
Ela também não teve tanta sorte,
seus ferimentos matá-la-iam, ligeiros.
E ela sentiu-se feliz
Como antes de conhecê-lo.
No amor, ele era apenas aprendiz.
Ela apaixonou-se por todo aquele zelo.
Sentiu algo ruim por dentro.
Ainda não era a morte,
Já havia sentido-a bem forte
Em algum outro momento.
Era a angústia do arrependimento.
As dores, antes insuportáveis,
Agora pareciam amáveis,
Como uma espécie de alento.
O sol ia-se já entrando pela janela.
Ela sequer havia percebido
Que o astro revelador havia nascido.
Duas pessoas já olhavam para ela.
Mas ela estava surda, catatônica,
Sequer podia ouvir gritos de fora,
Não sabia por que gritavam: -Mônica!
Não queria passar daquela hora.
Num surto de loucura,
Agarrou-se no dedo
Que ainda estava preso.
Aquilo não tinha cura.
Pôs-se furiosamente a puxá-lo
Até finalmente arrancá-lo
Do se seu corpo mutilado.
Ouviu uma forte pancada
Na porta trancada,
Logo ao seu lado.
Enquanto os seus vizinhos
Deitavam abaixo a sua porta
Ela, com a faca, prevenindo-se,
Garantiu que estaria bem morta.
Num rápido movimento previsto
Tomou a faca da mão do amado
E degolou-se, de lado a lado,
Como nunca ninguém havia visto.
...
Ao depararem-se com o caos
Do lado de dentro da casa,
Num tom todo original
Alguém gritou à todos na praça:
Olha o que o Rafael fez,
Matou a ambos de uma só vez!
E todos amaldiçoaram o pobre diabo,
Afinal,
Boato é a única coisa banal
Bem vendido, mesmo sendo fiado.
Criando algumas rimas interessantes Destilamos o que nos há de melhor E misturamos até ter ver nossa cor Tomar o universo em tons vibrantes. São as palavras o melhor a se dividir. Nossos pensamentos e sentimentos, Nossas alegrias, fantasias ou lametos São um novo local no qual podemos ir. Convide a todos para um bom passeio. Vamos andar num lugar difenrente: a imaginação. O poeta vive num belo mundo de ilusão E sempre cuida bem daquele que veio. (Imagem: Edgar Allan Poe - Horácio Corral)
domingo, 27 de maio de 2012
Humanos
Sempre inperfeito é o homem,
Há sempre defeito em nós.
Vivemos insatisfeitos e sós,
Praguejando e dizendo: amém.
Às vezes fazemos um bem mal,
Outras vezes, um mal bem.
Cada um vive como lhe convém:
É forte, bom, oportunista, banal...
Somos a praga da caixa,
De pandora ou do juízo final.
Forte estrutura viva e social,
Que hora quebra, ora encaixa.
Desvendamos como cada cor
Comporta-se nesta galáxia
E somos, na medida máxima,
Uma rosa coberta com cocô.
Há sempre defeito em nós.
Vivemos insatisfeitos e sós,
Praguejando e dizendo: amém.
Às vezes fazemos um bem mal,
Outras vezes, um mal bem.
Cada um vive como lhe convém:
É forte, bom, oportunista, banal...
Somos a praga da caixa,
De pandora ou do juízo final.
Forte estrutura viva e social,
Que hora quebra, ora encaixa.
Desvendamos como cada cor
Comporta-se nesta galáxia
E somos, na medida máxima,
Uma rosa coberta com cocô.
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