domingo, 12 de fevereiro de 2012

Relógios

A localização temporal
É o passo inicial
Do macaco armado
Rumo ao homem lapidado.

O mundo possui estações
Que trazem e levam plantações,
Um sol, hora quente, hora frio,
E a lua, outro belo astro vadio.

Quanto mais precisamente
O passado e o presente
É por nós, homens, medido,
Mais nos vemos evoluídos.

Relógios biológicos complexos,
Diferentes em tamanhos e sexos,
Máquinas vivas com o poder
De questionar e entender...
Somos o topo da cadeia da evolução,
Dicotomia além da compreenção.

Somos Chronos, anos, dias, horas, segundos.
Somos inconsequentes e interdependentes.

Estamos no relógio da natureza do momento
Pendurados como enfeites na parede do tempo.

O magro ponteiro ligeiro dos segundos
Corre com precisão em direção ao começo
Para que o mediano marcando os minutos
Siga sua mesma estrada em lento passo
Na joranada de uma hora mais distante.

E ainda há quem sinta-se mais importante...

Sempre há o gordo baixo da hora,
O mais lento entre nós todos,
Que, com seu jeito, sem modos,
Pensa que só o seu brilho vigora.

... E os números em volta, a sorrir
E divertir-se com a corrida dos ponteiros
Que vão e voltam, precisos e certeiros
Pensando que só eles têm direito de existir.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Demônio Sempre Vem Sorrindo

Chorar de tanto rir;
Sentir prazer na dor...
Tantos caminhos para seguir:
Compaixão, medo, ódio... amor.

Que paradoxo é a simplicidade.

De que serve o arrependimento?
O tempo não dá outra oportunidade.
O passado, para os estúpidos,
É um tormento.

Ser humano é ser social, normal...
Normais são loucos com a mesma mania.
O diferente chama mais a atenção,
Mas o comum, o supérfluo, é maioria.

O imitador é sempre um burro, incapaz.
O mais inteligente é sempre anormal.
O criador, se tudo fez e tudo faz,
É o pai do bem e a mãe do mal.

Nem sempre o óbvio é evidente.
Uns são miseráveis
E, ainda sim, felizes.
Os ricos são sempre infelizes,
Fúteis e prepotentes.
Onde há dinheiro, há crises.

Cadê o fim do infinito?
Quem pregou ele p'ra nós?
O Demônio vem sempre sorrindo,
E o Deus criador nos deixou sós.

Soneto Romântico

Nada há como seguir
A beleza do seu olhar.
Lembra o sol a acordar
Fazendo o mar reluzir.

Nada é tão desejável
Do que roubar a atenção
Dos olhos que vêm e vão,
De valor inestimável.

Também, pouco há, no mundo
Que compare-se ao seu sorriso -
Como é difícil de esquecer!

O romantismo é um mar profundo,
Estranho, incomparável, impreciso...
Teria eu o direito de afundar você?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Soneto Preeliminar

És a mais bela musa, senhora da minha mente.
Perto de ti, vejo-me como pequena criatura.
Dos teus pés, contemplo a colossal figura
Que, com ternura, repousa em minha frente.

Em seus joelhos, andando na linha, sigo anexo.
Deleito-me neste lugar a esperar a terra tremer
Em orgasmos provocados para a alegria nascer,
Na fronteira da cachoeira inativa do teu sexo.

Subindo as planícies abdominais até as montanhas
De cimos febris, infantis, coberto de manhas,
De ti, assim, arrancarei todos os gemidos.

E então, beijarei a tua escancarada boca
E a penetrarei e matarei toda aquela louca
Vontade que corrói e destrói os esquecidos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amando...

Como é bom ser capaz de amar...

O ar está sempre a faltar em nosso pulmões...
O coração, hora bate, hora não, como as canções...

A vida, sempre finita, só termina no momento
Em que abrimos mão dos nossos sentimentos.

Jamais o amor poderia ser ridículo.
Todo o bem crescido tem, ao menos,
Um alguém amado em seu currículo.
É aquele do qual nunca esquecemos.

O que é mais cômico
Do que alguém que pensa
Que consegue viver sozinho
Uma vida tão tensa?

Só sendo bastante imbecil.
A vida, já foi dito,
É como um rio que passa:
Sempre o mesmo rio,
Nunca as mesmas águas.

Porém, infelizmente, muitos não sabem.
Muitos são os corações sem porta,
Onde é banal todo aquele vai e vem.

São as pessoas de alma morta.

Estes corpos insensíveis,
Em diferentes níveis,
Estão sempre dispostos
A plantar desgostos.
Julgam todos como iguais -
Como são banais! -
E alimentam-se de almas lívidas
Cobrando amor, a pior das dívidas.

Mas, vendo-se amadas
Sentem-se enojadas,
Desperdiçando sentimentos,
Transformando-os em lamentos.
E os lamentos endurecem o coração
E plantam na pedra um jardim de ilusão.

Então, as rosas negras,
Com espinhos em lugar das pétalas,
Põem-se a exalar o fedor da derrota,
A alma a agonizar, estremece e arrota.
Em pouco tempo, estará quase morta.

Contudo, ainda há almas que curam-se
De todas as feridas e furam-se
A brincar de bem-me-quer,
Sem guardar sequer uma só cicatriz.

Estas sabem o que é realmente ser feliz,
Sabe guardar o momento vivido
E alegrar-se por ter sentido.

Ainda resta quem saiba o valor do amor,
Há quem ame sem importar-se com a dor.

Estes espíritos amantes
São raros como antes.
Guardam a alma para ver
O corpo enterrado perecer.

Preferem abrir mão da própria vida
P'ro o amor não ser uma palavra perdida.
Buscam nada além de alguém que mereça
Um lar no coração e um jardim na cabeça.

Todo o verdadeiro romântico é um suicida.
Queima o corpo, mantendo a alma aquecida.

A felicidade de amar é como o sol,
O romantismo é a bússola do girassol.
Na luz vivificante revela o dia
E aquece a alma outrora fria.

A tristeza da ilusão é como a lua.
Mostra a vida real, nua e crua:
Negra e salpicada de estrelas brilhantes,
Outros universos bastante distantes.

Assim como mudam as estacões nos anos,
O tempo molda a forma que amamos.

Ao tentarmos entender o amor,
Apenas perdemos a capacidade de sentí-lo.
O verdadeiro sentimento
Só se é sentido, nunca compreendido.
Há apenas uma certeza de que sei:
O amor não segue regras, nem sequer leis.

Tenho a esperaçanca de estar
Bem vivo quando o amor chegar.
E mesmo que não tenha forças,
Sei que ainda serei capaz de amar.