domingo, 27 de maio de 2012

Triste Final Feliz

A lua cheia emitia seu brilho.
No piso,
Estendia-se o reflexo negro
Quase a alcançar-lhe os pés,
Alí, na madrugada, às duas e dez.

As cortinas
Não podiam fecharem-se sozinhas
E faltava-lhe força para levantar-se,
Havia já certo tempo
Que desistira, inocente,
Dos poderes da mente.

O cenho sisudo
Parecia arrependido.

"Como aquilo havia acontecido?"

Aquela pergunta não a abandonava,
O medo ditava tudo o que pensava.

Num espelho manchado de sangue,
Aqueles olhos enfurecidos,
Adiante,
Pareciam totalmente estranhos.
Manchas também nos cabelos castanhos.

Durante anos amou o corpo estendido.
Seu coração, pertencia ao bandido
Que um dia roubara-lhe toda a paz.

O corte, fundo demais,
Quase partiu ao meio
O seu belo seio.

O pedaço
Do dedão esquerdo
Do seu belo pé,
Ainda preso,
Doia muito quando tocava o rodapé.

Aquelas tristes memórias
A açoitavam fortemente.
Os dias de tristezas e glórias...
Dois amantes febris, inocentes...

Só agora ela via
O terrível monstro
Que os assombrava.
A falta de alegria,
Destruidora de planos,
Ela mesma a provocara.

O pobre infeliz,
Agora imóvel,
No chão,
Como ela sempre quis,
Era óbvio,
Nunca mais diria "não".

Lembrava-se de como ele era imbecil.
Era calmo, atencioso, prestativo, infantil...
Apenas mais um corno em potencial.

Aquele sorriso impróprio e estúpido
Davam-lhe a imagem de um corrupto.

Pensava que não tinha um rival...

E novamente a dor insuportável
Fazia-lhe sentir-se inconfortável.

As estúpidas declarações de amor
Provocavam nela apenas pura aversão.
Ele era ótimo em lidar com a dor,
Mas não era mais que uma diversão.

Uma mosca sentou no osso exposto do seu dedão.

Tavez ela nunca tenha amado-o.
Sentia-se muito bem ao seu lado,
Mas, algo nele a incomodava.
A sua eterna felicidade
Era o que mais a irritava,
Isto sabia que era verdade.

Cada sorriso por ele emitido
Despertava nela um ódio desmedido.

Como ele era idiota.
Será que aprovou também,
Como comigo, com outro alguém,
O saboroso gosto da derrota?

E outras pequeninas Moscas
Sentavam nos ossos à mostra.

Pequenos pontinhos brilhantes
Tomavam todo o seu campo visual.
As poças sanguíneas coagulates
De ambos uniam-se pelo chão.
Ela estava muito mal.
Sentia dormência nos dedos da mão.

O instinto vivo de sobrevivência
Mostrou nele toda a sua essência
Nos seus últimos segundos de vida.
Depois de uma vida de pacifismo
Ele largou de mão todo o moralismo
E reagiu contra a sua investida.
Pena ser já tão tarde,
A lâmina já penetralha-lhe a carne.
Nos seus últimos segundos
Revidou, em talhes mais profundos.

Mas ela, muito esperta,
Sabia que, para ele, a morte era certa.
Escolheu cuidadosamente o local
Onde desferiria o seu golpe fatal.

Era para parecer acidental...
Rompeu-lhe apenas a artéria femural,
No meio do seu último beijo,
Queria-o morto, não com um aleijo.

O pior foi ele ter percebido.
Era para ela ter fugido
Enquanto parecia um acidente.

Mas ele foi-lhe um passo á frente.

Agarrou-a por um braço,
Num pequeno espaço de tempo,
Firme como um laço num touro,
Tomou-lhe a causa do ferimento
E tencionava arrancar-lhe o couro.

A mesa de mámore, até alí de pé,
Caiu-lhes sobre os pés
Decepando o dedão do pé da mulher.

Com a última investida
que o troxe algum efeito
Abriu nela aquela ferida
Que partiu-lhe o peito.

Ela apenas havia realizado
O mais antigo sonho do finado:
Deixar de existir.
Ele é que nunca teve a coragem
De realizar o seu desejo selvagem
De partir.
Ele era retardado, depressivo e,
Ainda sim, vivia a sorrir.

E as moscas já cobriam-lhes inteiros
Como trabalhadores matinais da Morte.
Ela também não teve tanta sorte,
seus ferimentos matá-la-iam, ligeiros.

E ela sentiu-se feliz
Como antes de conhecê-lo.
No amor, ele era apenas aprendiz.
Ela apaixonou-se por todo aquele zelo.

Sentiu algo ruim por dentro.
Ainda não era a morte,
Já havia sentido-a bem forte
Em algum outro momento.

Era a angústia do arrependimento.

As dores, antes insuportáveis,
Agora pareciam amáveis,
Como uma espécie de alento.

O sol ia-se já entrando pela janela.
Ela sequer havia percebido
Que o astro revelador havia nascido.
Duas pessoas já olhavam para ela.

Mas ela estava surda, catatônica,
Sequer podia ouvir gritos de fora,
Não sabia por que gritavam: -Mônica!
Não queria passar daquela hora.

Num surto de loucura,
Agarrou-se no dedo
Que ainda estava preso.

Aquilo não tinha cura.

Pôs-se furiosamente a puxá-lo
Até finalmente arrancá-lo
Do se seu corpo mutilado.

Ouviu uma forte pancada
Na porta trancada,
Logo ao seu lado.

Enquanto os seus vizinhos
Deitavam abaixo a sua porta
Ela, com a faca, prevenindo-se,
Garantiu que estaria bem morta.

Num rápido movimento previsto
Tomou a faca da mão do amado
E degolou-se, de lado a lado,
Como nunca ninguém havia visto.

...

Ao depararem-se com o caos
Do lado de dentro da casa,
Num tom todo original
Alguém gritou à todos na praça:

Olha o que o Rafael fez,
Matou a ambos de uma só vez!

E todos amaldiçoaram o pobre diabo,
Afinal,
Boato é a única coisa banal
Bem vendido, mesmo sendo fiado.

Humanos

Sempre inperfeito é o homem,
Há sempre defeito em nós.
Vivemos insatisfeitos e sós,
Praguejando e dizendo: amém.

Às vezes fazemos um bem mal,
Outras vezes, um mal bem.
Cada um vive como lhe convém:
É forte, bom, oportunista, banal...

Somos a praga da caixa,
De pandora ou do juízo final.
Forte estrutura viva e social,
Que hora quebra, ora encaixa.

Desvendamos como cada cor
Comporta-se nesta galáxia
E somos, na medida máxima,
Uma rosa coberta com cocô.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Este mundo
É um buraco profundo
Onde imbecis,
Meros fracos e infantis
Buscam encher
O vazio que é morrer
Tristes, perdidos
Em sonhos esquecidos.

O fim do mundo,
Este pensamento imundo,
Só é pregado
Por quem o tem piorado.
Nada está
Fora do seu devido lugar.
Amor,
É a única coisa de valor.

No escuro,
Dormia o ser inseguro
E Prometeu
O fogo sagrado nos deu.
E o ser humano
Tudo foi desvendando.
A razão sagrada
Nos revelou a estrada.

Temíamos bichos
E adorávamos os lixos,
Animais divinos,
Pregados aos meninos.
Aqui agora,
Nosso poder vigora.

Apenas controlamos
Aquilo que conhecemos.
E só não conhecemos
A nós mesmos.

É que ainda falta morrer
A última fé que se vê
No que não vemos.

Devemos
Acreditar em nós mesmos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A Bússola da Vida

Acredito em um Deus
Que fez-me como sou
Para fazer o que faço
Da maneira que sei.

Todos teem um Deus,
Várias faces ele tem
E convém usar todas
Para expor a sua lei.

Cada um segue a ordem
Que vem-lhe do berço
E do ventre materno,
A bússola da vida.

O bom Deus é o que o fez,
Enquanto o maldito,
Forte ladrão deprevado,
O amedronta.e trucida.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Naturalidade Feminina

Antigos ancestrais reviram-se nos túmulos
Diante do maior entre todos os cúmulos:
A luta contra o que realmente se é.

Todos os mais belos dos caixinhos vídicos
Da vigorosa videira de frutos físicos
Viraram vassouras de limpar o pé.

Aqueles mais sedutores e frágeis caracóis
Deixaram as cabeças femininas a sós,
Despidas do escudo da naturalidade.

Cabelos lisos podem até ser muito legais,
Existem outras várias coisas anormais,
Pena que nem sempre são de verdade.

Faço o mais poético pedido à todas vocês:

Abandonem este preconceito de uma só vez,
A beleza não encontra-se apenas no salão.

Beleza, se alguém poder comigo concordar,
É apenas mais uma questão de pura opinião
Cada beleza distinta ocupa o devido lugar.

Seja bela, e não apenas mais uma qualquer.
Homem, realmente, admira inteira a mulher,
Não uma boneca, com os cabelos de madeira
E fedendo como um bode a venda numa feira.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Desespero de Lolita

Lolita caminhava
Sozinha e procurava
O lugar onde guardara
As coisas que mais amava.

Diante de um espelho
Parou e pensou:
Qual vestido ficará melhor,
O preto ou o vermelho?

Seu corpo, semi-nú,
Sem sutiã, calcinha azul,
Quase que hipnotizava.

O que ela precisava
Estava alí, diante dos olhos:
Era o seu corpo perfeito.

Suas formas,
Sob as mais exigentes normas
Da natureza masculina,
Obra que facina,
Eram cópias das da mais bela Vênus
Esculpida pelos velhos romanos.

Seus olhos, tênues,
Exibiam traços inumanos.
Lembravam traiçoeira serpente
Pronta para atacar, de repente.
Desejava, apenas,
Devolver o mal sentido.
Descansaria após ter retribuído.

Maus pensamentos, centenas,
Passavam em sua mente.
Sequer parecia uma criança inocente,
Tal qual era.
Era o monstro de alguma quimera.

Seu duro coração de pedra, inquebrável,
Chegou a bater, por tempo considerável,
Levando-a a pensar que estava a sentir.
Entretanto, seu modo de agir,
Durante todos os seus anos,
Mostrou o seu imenso egoísmo.

Ela nunca fez planos.

Como manda o modismo
Da sua insensível fase,
Queria, como diz a frase:
"Se dar bem!"
Porém,
Isso nunca aprendeu.

Esperava que tudo
Que merece neste mundo
Caisse do distante céu.

Não pensava em sua velhice,
Apenas na imundície
Que servia-lhe de exemplo.

Sentia, por dentro,
Que ela era comum,
Apenas vulgar.
Apenas mais um
Que não encontrou o lugar.

E, então, Lolita viu -
Ou melhor: sentiu -
Aquilo que precisava.

Descobriu que não amava.
Que ainda brincava com bonecas.
Era apenas mais uma destas
Inocentes crianças
Que brincam com armas.

E todos os seus carmas
Ficaram-lhe claros.

Percebeu, alí,
Que os mais caros
São os itens mais raros.

E só alí pode sentir:
Tornara-se apenas mais uma
Que desaparece após um banho de espuma.

domingo, 1 de abril de 2012

Notícia Extraordinária!!!!!!!

Nesta manhã de Domingo,
Dia 1º do mês de Abril,
Foi encontrado morto,
No leito de um rio,
O infame poeta
Ítalo Cunha.

As testemunhas afirmam,
Pescadores e curiosos,
que, segundo viram,
Em brados furiosos,
Ele apenas chegou
E então pulou.

A família do firme finado,
Lavados com lágrimas,
Comentou o triste fato,
Em palavras trágicas,
Em meio à suspiros
Ressentidos.

E, no entremeio, sorrindo,
Estava o próprio morto,
Deitado lá e curtindo,
Com todo seu gosto,
A fuga deste mundo
Triste e imundo.

O mais extraodinário,
Sem margem para comentário,
É que, pode acreditar,
Esta terrível estória,
Sem nenhuma glória,
Ele mesmo acabou de contar.

domingo, 25 de março de 2012

Os Fabricantes de Lampeões

Lá está, mais um fabricante de Lampião,
Com a sua ferramenta sempre à mão,
Aquela sua postura altiva e intimidante
Em perfeita concordância o semblante,
Violento e traiçoeiro.

Com a sua insaciável sede de justiça,
Intimida a sua matéria-prima omissa
Usando toda a violência hollywoodiana
Acumulada durante a sua infância insana,
O gatilho é ligeiro.

A estúpida hierarquia dos cães,
Com coleiras e donos sem mães,
Permite-lhes fazer o mal justificado.
Por dinheiro, isso não é pecado,
Devemos concordar.

As suas armas apontadas e prontas
Permite-lhes lidar com todas as afrontas
Pondo em jogo a vida de alguns inocentes,
Pobres medrosos e cidadãos decentes.
Eles teem que trabalhar.

E o Lampião vai nascendo e crescendo
Dentro daquele perante o cano, tremendo,
Pensando que, no momento descrito,
Viu-se desarmado, incapaz e frito.
Momentos assim, ninguém esquece.

E a lei... nem o fabricante obedece.











VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA,
NÃO PODEMOS PLANTAR CAPIM
E ESPERAR QUE NASÇAM ROSAS!





(Em homenagem à todos aqueles bons policiais
Que gritam, apontam armas e assustam cidadãos
Por sentirem-se a classe mais importante.
É isso que eles fazer na sociedade:









Ah, tá, e à Lampião também!

Um grande VIVA às lutas pela liberdade
E contra todo o abuso de autoridade!)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Se Você Busca Um Sorriso, Não Leia!

Escrevo agora com o ódio
Que corrói a alma.
Aquele maldito e até óbvio
Sentimento que nos acalma.

O mundo é cruel e insano
Frio e matemático.
É estúpido quem está tentando
Ser sempre simpático.

Os bons sentimentos morrem,
Aqui, neste horrível lugar,
Enquanto imbecis comcorrem
À qualquer prêmio vulgar.

Os olhos cheios de esperança
Vindo em minha direção,
Lembram-me uma criança
Com um revólver na mão.

A inocência da inconsequência
Da curiosidade do filho
Pode levá-lo, sem prudência,
A apontá-la e puxar o gatilho.

O simples ato de baixarmos
A nossa cabeça
Pode até mesmo matar-nos,
Nunca esqueça.

Correto mesmo é sair por aí
Destruíndo e matando,
Como todo o esperto faz aqui.
Isso é comum, não insano.

Então vem-me a tristeza
De, infelizmente, saber,
Com toda a certeza,
Que,
Ainda melhor, pode crer,
Não é matar, mas morrer.

E fico esperando o dia correto
Em que minha alma penada
Largue este corpo incompleto,
Torne-se, finalmente, alada
E saia desta imunda estrada.

A Verdade

Nem feia, nem bela,
Dolorosa ou singela,
Ela é a verdade.

Sem rancor ou vaidade
Ou piedade do executor
Não traz dor, nem amor.

Não quer ódio ou alegria
Nem teme a noite ou o dia,
Acoita, corta, mata e cura.

A Verdade é uma figura!

Faz chorar e dar risada;
É o caminho e a cilada;
Dá a vida para matar;
Ordena o caos para criar.

A verdade é humana e irracional;
Fria, sadia, forte, imparcial
E, pode apostar, sempre pontual.

É o oposto da mentira
Que salva, condena,
Engana e envenena
E, quando descoberta,
Muito esperta,
Escolhe um lado e se retira.

Rotten World

If you realy want to know
What I have to say
I"ll realy try to tell you,
But, I"ll do it in my own way.

To live sucks the life to the bones,
Even before you die;
The world only choose the ones
That knows how to lie.

The poetry of life is rotting
And falling down in agony
While good ones are preing
For the fool's gods simpathy.

Thus, there's still some hope.
In the name of the goodness.
One or other go to the rope
For it, some more, some less.


And others, like me, instead,
Only wants this own place
To rest sided with the Death.
This is the only real grace.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Relógios

A localização temporal
É o passo inicial
Do macaco armado
Rumo ao homem lapidado.

O mundo possui estações
Que trazem e levam plantações,
Um sol, hora quente, hora frio,
E a lua, outro belo astro vadio.

Quanto mais precisamente
O passado e o presente
É por nós, homens, medido,
Mais nos vemos evoluídos.

Relógios biológicos complexos,
Diferentes em tamanhos e sexos,
Máquinas vivas com o poder
De questionar e entender...
Somos o topo da cadeia da evolução,
Dicotomia além da compreenção.

Somos Chronos, anos, dias, horas, segundos.
Somos inconsequentes e interdependentes.

Estamos no relógio da natureza do momento
Pendurados como enfeites na parede do tempo.

O magro ponteiro ligeiro dos segundos
Corre com precisão em direção ao começo
Para que o mediano marcando os minutos
Siga sua mesma estrada em lento passo
Na joranada de uma hora mais distante.

E ainda há quem sinta-se mais importante...

Sempre há o gordo baixo da hora,
O mais lento entre nós todos,
Que, com seu jeito, sem modos,
Pensa que só o seu brilho vigora.

... E os números em volta, a sorrir
E divertir-se com a corrida dos ponteiros
Que vão e voltam, precisos e certeiros
Pensando que só eles têm direito de existir.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Demônio Sempre Vem Sorrindo

Chorar de tanto rir;
Sentir prazer na dor...
Tantos caminhos para seguir:
Compaixão, medo, ódio... amor.

Que paradoxo é a simplicidade.

De que serve o arrependimento?
O tempo não dá outra oportunidade.
O passado, para os estúpidos,
É um tormento.

Ser humano é ser social, normal...
Normais são loucos com a mesma mania.
O diferente chama mais a atenção,
Mas o comum, o supérfluo, é maioria.

O imitador é sempre um burro, incapaz.
O mais inteligente é sempre anormal.
O criador, se tudo fez e tudo faz,
É o pai do bem e a mãe do mal.

Nem sempre o óbvio é evidente.
Uns são miseráveis
E, ainda sim, felizes.
Os ricos são sempre infelizes,
Fúteis e prepotentes.
Onde há dinheiro, há crises.

Cadê o fim do infinito?
Quem pregou ele p'ra nós?
O Demônio vem sempre sorrindo,
E o Deus criador nos deixou sós.

Soneto Romântico

Nada há como seguir
A beleza do seu olhar.
Lembra o sol a acordar
Fazendo o mar reluzir.

Nada é tão desejável
Do que roubar a atenção
Dos olhos que vêm e vão,
De valor inestimável.

Também, pouco há, no mundo
Que compare-se ao seu sorriso -
Como é difícil de esquecer!

O romantismo é um mar profundo,
Estranho, incomparável, impreciso...
Teria eu o direito de afundar você?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Soneto Preeliminar

És a mais bela musa, senhora da minha mente.
Perto de ti, vejo-me como pequena criatura.
Dos teus pés, contemplo a colossal figura
Que, com ternura, repousa em minha frente.

Em seus joelhos, andando na linha, sigo anexo.
Deleito-me neste lugar a esperar a terra tremer
Em orgasmos provocados para a alegria nascer,
Na fronteira da cachoeira inativa do teu sexo.

Subindo as planícies abdominais até as montanhas
De cimos febris, infantis, coberto de manhas,
De ti, assim, arrancarei todos os gemidos.

E então, beijarei a tua escancarada boca
E a penetrarei e matarei toda aquela louca
Vontade que corrói e destrói os esquecidos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amando...

Como é bom ser capaz de amar...

O ar está sempre a faltar em nosso pulmões...
O coração, hora bate, hora não, como as canções...

A vida, sempre finita, só termina no momento
Em que abrimos mão dos nossos sentimentos.

Jamais o amor poderia ser ridículo.
Todo o bem crescido tem, ao menos,
Um alguém amado em seu currículo.
É aquele do qual nunca esquecemos.

O que é mais cômico
Do que alguém que pensa
Que consegue viver sozinho
Uma vida tão tensa?

Só sendo bastante imbecil.
A vida, já foi dito,
É como um rio que passa:
Sempre o mesmo rio,
Nunca as mesmas águas.

Porém, infelizmente, muitos não sabem.
Muitos são os corações sem porta,
Onde é banal todo aquele vai e vem.

São as pessoas de alma morta.

Estes corpos insensíveis,
Em diferentes níveis,
Estão sempre dispostos
A plantar desgostos.
Julgam todos como iguais -
Como são banais! -
E alimentam-se de almas lívidas
Cobrando amor, a pior das dívidas.

Mas, vendo-se amadas
Sentem-se enojadas,
Desperdiçando sentimentos,
Transformando-os em lamentos.
E os lamentos endurecem o coração
E plantam na pedra um jardim de ilusão.

Então, as rosas negras,
Com espinhos em lugar das pétalas,
Põem-se a exalar o fedor da derrota,
A alma a agonizar, estremece e arrota.
Em pouco tempo, estará quase morta.

Contudo, ainda há almas que curam-se
De todas as feridas e furam-se
A brincar de bem-me-quer,
Sem guardar sequer uma só cicatriz.

Estas sabem o que é realmente ser feliz,
Sabe guardar o momento vivido
E alegrar-se por ter sentido.

Ainda resta quem saiba o valor do amor,
Há quem ame sem importar-se com a dor.

Estes espíritos amantes
São raros como antes.
Guardam a alma para ver
O corpo enterrado perecer.

Preferem abrir mão da própria vida
P'ro o amor não ser uma palavra perdida.
Buscam nada além de alguém que mereça
Um lar no coração e um jardim na cabeça.

Todo o verdadeiro romântico é um suicida.
Queima o corpo, mantendo a alma aquecida.

A felicidade de amar é como o sol,
O romantismo é a bússola do girassol.
Na luz vivificante revela o dia
E aquece a alma outrora fria.

A tristeza da ilusão é como a lua.
Mostra a vida real, nua e crua:
Negra e salpicada de estrelas brilhantes,
Outros universos bastante distantes.

Assim como mudam as estacões nos anos,
O tempo molda a forma que amamos.

Ao tentarmos entender o amor,
Apenas perdemos a capacidade de sentí-lo.
O verdadeiro sentimento
Só se é sentido, nunca compreendido.
Há apenas uma certeza de que sei:
O amor não segue regras, nem sequer leis.

Tenho a esperaçanca de estar
Bem vivo quando o amor chegar.
E mesmo que não tenha forças,
Sei que ainda serei capaz de amar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Carta à um ex-amor

Olá, meu amor,
Como tem passado?

O ferimento, sem dor,
Já está curado.
Nada do que vivemos
Foi apagado.
Não falta sequer o
Mais ínfimo pedaço.

Está a inocência
do primeiro sorriso;
Toda a alegria
Das primeiras frases:
As que trocamos,
Numa das suas fases,
Que me prenchiam
O vazio deste coração.

Está a paixão
Que brotou no jardim
De pura ilusão:
Um belo jasmim
De palavras em vão.
Pintado com as dores
De outros amores...

Saiba, onde fores,
Que isso não se perdeu,
Está cheio de cores:
É negro, como breu,
Incomum às flores,
Vermelhos de desejos,
Confianças verdes de ensejo...

O desejo de um beijo,
A primeira mentira...
É assim que eu te vejo.
Se é vidro ou safira?
É saber que não almejo.
Com tudo isso, fui além
E desejei te fazer bem.

Aquela visita também,
É uma ótima lembrança,
Não sinto nenhum desdém.
Admirei-a como a criança
Sem saber de onde aquilo vem.
Quis protegê-la no momento,
Quis dedicar-lhe o sentimento...

Envolvi-a como o vento
Que nos rodeia à todos.
Era um grande alento
Tê-la em meus braços bobos.
Deixou-me sedento
De possuí-la inteira,
De qualquer maneira.

A paixão, ligeira,
Dominou-me por completo:
Um espinho na cadeira,
No Travesseiro, um prego.
A esperança, faceira,
Dançava, inocente,
Dentro da minha mente.

Inconsequentemente,
Lutei para ter você.
Não sabia o que me vinha á frente...

Quis tanto te dar
Que nem percebi
Que você não queria.

Acreditei tanto
Em tudo que ouvi
Em sorriso ou em pranto...

Sonhei tê-la para mim,
Dediquei-lhe rimas,
Tentei não ser ruim
E unir nossas sinas.

Tentei tirar as dúvidas
Que a tiravam o sono.
Criei estórias lívidas
Para explicar-lhe o mundo.

Quando percebi,
Era tarde.
Eu já a amava.

Você pintava
O céu de cinza
E eu acreditava.

Seu namorado,
Nosso impecilho,
Sequer imaginava
O que o esperava...

Foi quando pensei
Que nem eu contei
Com aquela moeda.
Uma hora ia dar merda.

Mas o coração, contente,
Enxergou um presente,
Como se fosse uma erva
Que na merda se conserva.

O que era amor
Tornou-se uma mistura
De esperança e temor.

A paz trazida
Tornou-se loucura,
Poesia perdida.

Sua brincadeira tornou-se evidente.
Pensei se você era fútil ou inocente.

Mas meu coração, cheio de dores,
Me proibiu outros amores.

E, novamente, você voltou,
Viu a porta da frente e entrou.

Eu não podia mais negá-la asilo,
Com você, meu coração ficava tranquilo.

Libertou-me da minha loucura
E fez bem o papel da cura.

Aproveitando-se da porta aberta
Entrava e saia sem hora certa.

Sujou o tapete da varanda
E toda a parte por onde se anda.

Acho que você pensou,
Quando a porta se fechou
Que deveria ter pego a chave.

Mas, há algo que não contei,
Durante o tempo que esperei
Você levar-me em sua nave.

Decorei os seus passos.
Pus armadilhas no caminho.
Esta casa de fracassos
Não quer mais o seu carinho.

O presente que te dei
Vale pela minha vida,
Disso muito bem sei...
Foi a minha despedida.

Procurarei um lugar
Mais tranquilo e do bem
Em que não vá precisar
Dividí-lo com ninguém.

Suas palavras, hoje,
Não mais me encantam.
Seus olhos que fogem
Já provaram que não amam.

Espero que tudo dê
Muito certo para você,
Assim, não vou vê-la novamente.
Quero amor em minha frente.

Desejo-a ainda o que sempre quis:
Que você seja muito feliz!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Desabamento em Sobradinho

O teto da cidade
Caiu, de verdade,
Sobre todos os moradores.

Por volta das dez,
Já sem ver mes pés,
Corria eu pelos arredores.
As pessoas passavam -
Ou corriam ou nadavam! -
Tentando, à toa, proteger-se.

A chuva vinha e lavava
A dura terra que dava
Tudo o que só nela cresce.
Relâmpagos azuis rompiam
A atmosfera e acendiam
todos os cantos desta esfera.
E a água descia
Com grande maestria
Entre o rugir destas feras.

Cena esta que demora
E que chega sem hora.
Na caatinga, só chove no fim.

Aqui, a sombra bronzeia,
A chuva rareia,
A fome recreia...

...Só não tem tempo ruim.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vivendo

Perdi a minha vida sorrindo,
Lutando para ser bom caindo,
Não mantendo-me alí, de pé.

Perdi a coragem aprendendo
Que o sofrimento vencendo
Alegrava-me com medo e fé.

Sufocando o lúdico desejo
De possuir, agora vejo:
Não resta mais o que perder.

Toda a minha força se esvaiu
Quando a mente então sentiu
Que não tinha razão de ser.

Qual é a espécie de animal
A que o que vence é mal
E o perdedor vai para o céu?

Cada um de nós vê-se de pé
Daquele tamanho que se é.
Viver é foda, não lua-de-mel!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Erros da Vida

Ah, erros da vida!
A morte a chegar,
uma promessa esquecida,
Um erro de hora e lugar...

A bela amada perdida,
A morte a chegar,
O medo da partida,
Um erro de hora e lugar...

Machucar a ferida,
A morte a chegar,
Entrar na saída,
Um erro de hora e lugar...

O chorar da despedida,
A morte a chegar,
Um beco sem saída,
Um erro de hora e lugar...

Ah, erros da vida!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Panteísmo

Deus está em todos os lugares...

Na vida, na morte,
No azar, na sorte,
Nas igrejas, nos bares...

Na cicatriz, no corte,
No fraco, no forte,
No fundo do poço
E no alto do poste.

Segue-se que,
A não ser que ser
De estar seja diferente,

Eu estou com Deus;
Deus é meu;
Deus sou eu
E eu sou Deus.

Eu sou Deus!

Mas, Deus é tudo,
De você ao absurdo.

Então, eu sou você
E somos tudo.
(Deus incluso!)

Eu sou você
E somos deuses,
Logo:

Somos absurdos.

Tudo é nada e pertence a todos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Mister You em Casa

Escrevendo e testando
Outras formas em verso,
Vou tecendo e rimando,
Hora ou outra, tropeço.

Busco, em rimas, ter
A ousadia de viver
Versando e ouvindo
Cada verso nascer.

E, assim, vou compondo,
Sem metas, com sono,
Esperando amanhecer.

...

A chuva, lá fora,
Parou de cair.
A nuvem que chora
Acabou de partir.

O vinho, no copo,
Compõe o cenário,
Em meio a versos
E um dicionário.

O cigarro aceso
Defumava,
O aroma,
Forte e torturador.

Faltava a erva
E um cobertor.

E ele pensando no amor...

O amor só vem
Quando lhe convém.