domingo, 22 de janeiro de 2012

Carta à um ex-amor

Olá, meu amor,
Como tem passado?

O ferimento, sem dor,
Já está curado.
Nada do que vivemos
Foi apagado.
Não falta sequer o
Mais ínfimo pedaço.

Está a inocência
do primeiro sorriso;
Toda a alegria
Das primeiras frases:
As que trocamos,
Numa das suas fases,
Que me prenchiam
O vazio deste coração.

Está a paixão
Que brotou no jardim
De pura ilusão:
Um belo jasmim
De palavras em vão.
Pintado com as dores
De outros amores...

Saiba, onde fores,
Que isso não se perdeu,
Está cheio de cores:
É negro, como breu,
Incomum às flores,
Vermelhos de desejos,
Confianças verdes de ensejo...

O desejo de um beijo,
A primeira mentira...
É assim que eu te vejo.
Se é vidro ou safira?
É saber que não almejo.
Com tudo isso, fui além
E desejei te fazer bem.

Aquela visita também,
É uma ótima lembrança,
Não sinto nenhum desdém.
Admirei-a como a criança
Sem saber de onde aquilo vem.
Quis protegê-la no momento,
Quis dedicar-lhe o sentimento...

Envolvi-a como o vento
Que nos rodeia à todos.
Era um grande alento
Tê-la em meus braços bobos.
Deixou-me sedento
De possuí-la inteira,
De qualquer maneira.

A paixão, ligeira,
Dominou-me por completo:
Um espinho na cadeira,
No Travesseiro, um prego.
A esperança, faceira,
Dançava, inocente,
Dentro da minha mente.

Inconsequentemente,
Lutei para ter você.
Não sabia o que me vinha á frente...

Quis tanto te dar
Que nem percebi
Que você não queria.

Acreditei tanto
Em tudo que ouvi
Em sorriso ou em pranto...

Sonhei tê-la para mim,
Dediquei-lhe rimas,
Tentei não ser ruim
E unir nossas sinas.

Tentei tirar as dúvidas
Que a tiravam o sono.
Criei estórias lívidas
Para explicar-lhe o mundo.

Quando percebi,
Era tarde.
Eu já a amava.

Você pintava
O céu de cinza
E eu acreditava.

Seu namorado,
Nosso impecilho,
Sequer imaginava
O que o esperava...

Foi quando pensei
Que nem eu contei
Com aquela moeda.
Uma hora ia dar merda.

Mas o coração, contente,
Enxergou um presente,
Como se fosse uma erva
Que na merda se conserva.

O que era amor
Tornou-se uma mistura
De esperança e temor.

A paz trazida
Tornou-se loucura,
Poesia perdida.

Sua brincadeira tornou-se evidente.
Pensei se você era fútil ou inocente.

Mas meu coração, cheio de dores,
Me proibiu outros amores.

E, novamente, você voltou,
Viu a porta da frente e entrou.

Eu não podia mais negá-la asilo,
Com você, meu coração ficava tranquilo.

Libertou-me da minha loucura
E fez bem o papel da cura.

Aproveitando-se da porta aberta
Entrava e saia sem hora certa.

Sujou o tapete da varanda
E toda a parte por onde se anda.

Acho que você pensou,
Quando a porta se fechou
Que deveria ter pego a chave.

Mas, há algo que não contei,
Durante o tempo que esperei
Você levar-me em sua nave.

Decorei os seus passos.
Pus armadilhas no caminho.
Esta casa de fracassos
Não quer mais o seu carinho.

O presente que te dei
Vale pela minha vida,
Disso muito bem sei...
Foi a minha despedida.

Procurarei um lugar
Mais tranquilo e do bem
Em que não vá precisar
Dividí-lo com ninguém.

Suas palavras, hoje,
Não mais me encantam.
Seus olhos que fogem
Já provaram que não amam.

Espero que tudo dê
Muito certo para você,
Assim, não vou vê-la novamente.
Quero amor em minha frente.

Desejo-a ainda o que sempre quis:
Que você seja muito feliz!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Desabamento em Sobradinho

O teto da cidade
Caiu, de verdade,
Sobre todos os moradores.

Por volta das dez,
Já sem ver mes pés,
Corria eu pelos arredores.
As pessoas passavam -
Ou corriam ou nadavam! -
Tentando, à toa, proteger-se.

A chuva vinha e lavava
A dura terra que dava
Tudo o que só nela cresce.
Relâmpagos azuis rompiam
A atmosfera e acendiam
todos os cantos desta esfera.
E a água descia
Com grande maestria
Entre o rugir destas feras.

Cena esta que demora
E que chega sem hora.
Na caatinga, só chove no fim.

Aqui, a sombra bronzeia,
A chuva rareia,
A fome recreia...

...Só não tem tempo ruim.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vivendo

Perdi a minha vida sorrindo,
Lutando para ser bom caindo,
Não mantendo-me alí, de pé.

Perdi a coragem aprendendo
Que o sofrimento vencendo
Alegrava-me com medo e fé.

Sufocando o lúdico desejo
De possuir, agora vejo:
Não resta mais o que perder.

Toda a minha força se esvaiu
Quando a mente então sentiu
Que não tinha razão de ser.

Qual é a espécie de animal
A que o que vence é mal
E o perdedor vai para o céu?

Cada um de nós vê-se de pé
Daquele tamanho que se é.
Viver é foda, não lua-de-mel!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Erros da Vida

Ah, erros da vida!
A morte a chegar,
uma promessa esquecida,
Um erro de hora e lugar...

A bela amada perdida,
A morte a chegar,
O medo da partida,
Um erro de hora e lugar...

Machucar a ferida,
A morte a chegar,
Entrar na saída,
Um erro de hora e lugar...

O chorar da despedida,
A morte a chegar,
Um beco sem saída,
Um erro de hora e lugar...

Ah, erros da vida!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Panteísmo

Deus está em todos os lugares...

Na vida, na morte,
No azar, na sorte,
Nas igrejas, nos bares...

Na cicatriz, no corte,
No fraco, no forte,
No fundo do poço
E no alto do poste.

Segue-se que,
A não ser que ser
De estar seja diferente,

Eu estou com Deus;
Deus é meu;
Deus sou eu
E eu sou Deus.

Eu sou Deus!

Mas, Deus é tudo,
De você ao absurdo.

Então, eu sou você
E somos tudo.
(Deus incluso!)

Eu sou você
E somos deuses,
Logo:

Somos absurdos.

Tudo é nada e pertence a todos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Mister You em Casa

Escrevendo e testando
Outras formas em verso,
Vou tecendo e rimando,
Hora ou outra, tropeço.

Busco, em rimas, ter
A ousadia de viver
Versando e ouvindo
Cada verso nascer.

E, assim, vou compondo,
Sem metas, com sono,
Esperando amanhecer.

...

A chuva, lá fora,
Parou de cair.
A nuvem que chora
Acabou de partir.

O vinho, no copo,
Compõe o cenário,
Em meio a versos
E um dicionário.

O cigarro aceso
Defumava,
O aroma,
Forte e torturador.

Faltava a erva
E um cobertor.

E ele pensando no amor...

O amor só vem
Quando lhe convém.