terça-feira, 3 de abril de 2012

O Desespero de Lolita

Lolita caminhava
Sozinha e procurava
O lugar onde guardara
As coisas que mais amava.

Diante de um espelho
Parou e pensou:
Qual vestido ficará melhor,
O preto ou o vermelho?

Seu corpo, semi-nú,
Sem sutiã, calcinha azul,
Quase que hipnotizava.

O que ela precisava
Estava alí, diante dos olhos:
Era o seu corpo perfeito.

Suas formas,
Sob as mais exigentes normas
Da natureza masculina,
Obra que facina,
Eram cópias das da mais bela Vênus
Esculpida pelos velhos romanos.

Seus olhos, tênues,
Exibiam traços inumanos.
Lembravam traiçoeira serpente
Pronta para atacar, de repente.
Desejava, apenas,
Devolver o mal sentido.
Descansaria após ter retribuído.

Maus pensamentos, centenas,
Passavam em sua mente.
Sequer parecia uma criança inocente,
Tal qual era.
Era o monstro de alguma quimera.

Seu duro coração de pedra, inquebrável,
Chegou a bater, por tempo considerável,
Levando-a a pensar que estava a sentir.
Entretanto, seu modo de agir,
Durante todos os seus anos,
Mostrou o seu imenso egoísmo.

Ela nunca fez planos.

Como manda o modismo
Da sua insensível fase,
Queria, como diz a frase:
"Se dar bem!"
Porém,
Isso nunca aprendeu.

Esperava que tudo
Que merece neste mundo
Caisse do distante céu.

Não pensava em sua velhice,
Apenas na imundície
Que servia-lhe de exemplo.

Sentia, por dentro,
Que ela era comum,
Apenas vulgar.
Apenas mais um
Que não encontrou o lugar.

E, então, Lolita viu -
Ou melhor: sentiu -
Aquilo que precisava.

Descobriu que não amava.
Que ainda brincava com bonecas.
Era apenas mais uma destas
Inocentes crianças
Que brincam com armas.

E todos os seus carmas
Ficaram-lhe claros.

Percebeu, alí,
Que os mais caros
São os itens mais raros.

E só alí pode sentir:
Tornara-se apenas mais uma
Que desaparece após um banho de espuma.

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